Como escolhemos a cera das nossas velas — e porquê uma blend de colza e coco?
- Vânia Penedo
- 22 de jun.
- 5 min de leitura
Atualizado: 2 de out.

Ceras há muitas, mas só uma nos convenceu ao passar em todos os nossos testes.
A escolha da cera influencia tudo: o aroma, a duração, a estética e até o impacto ambiental de uma vela.
O que torna uma cera verdadeiramente especial?
A cera é mais do que um "detalhe" técnico — é o que determina como uma vela se comporta, queima e liberta o seu aroma. É também um dos elementos mais sensíveis aos ingredientes e ao processo de fabrico.
A procura pela cera ideal para uma vela aromática de qualidade é um processo exigente, que leva o seu tempo. No nosso caso, exigiu muitos meses de testes e inúmeras notas e observações até encontrarmos a base certa para os nossos Aromas Intencionais.
Durante este processo, definimos alguns critérios de escolha:
Ser de origem 100% vegetal e não ter aditivos de parafina;
Apresentar elevada sustentabilidade e uma reduzida pegada carbónica;
Ter alta compatibilidade com óleos essenciais e outros elementos aromáticos naturais;
Emitir um aroma frio e quente intenso;
Ter uma combustão lenta e com o mínimo de fuligem, mesmo em queimas mais longas.
Porquê cera vegetal e não de parafina?
Nem todas as ceras são iguais — e a diferença sente-se. Embora a parafina continue a ser amplamente usada em velas de produção industrial, não é uma escolha alinhada com os nossos valores. Trata-se de uma substância derivada do petróleo, de origem não renovável, e que pode libertar toxinas nocivas quando queimada.
As ceras vegetais, por outro lado, são alternativas limpas e seguras à parafina, além de serem biodegradáveis. Permitem também uma combustão mais estável, com menos fuligem e têm melhor compatibilidade com ingredientes naturais.
Uma vela aromática de qualidade é, em simultâneo, uma alquimia delicada e um sistema complexo. Sobretudo quando optamos exclusivamente por cera vegetal e por um processo de fabrico 100% artesanal. Sim, a cera vegetal exige mais tempo e cuidados acrescidos quando está a ser trabalhada. No entanto, esse cuidado traduz-se em velas de qualidade superior. Foi por isso que nunca procurámos atalhos — usar cera vegetal foi sempre a única opção.
Que tipos de cera vegetal existem — e o que os distingue?
Escolher uma cera vegetal é mais do que optar por uma alternativa à parafina. É compreender que as ceras vegetais não são inertes: evoluem com o tempo e são mais sensíveis a fatores como a temperatura, a humidade ou ao modo como são trabalhadas.
Como um bom vinho, as ceras vegetais precisam de tempo de cura para amadurecer o aroma devidamente.
Olhemos para as caraterísticas de três das ceras vegetais mais utilizadas.
Cera de soja
A cera de soja é, provavelmente, a mais utilizada na produção de velas vegetais. É biodegradável, difunde bem o aroma e é relativamente fácil de trabalhar. No entanto, está frequentemente associada a práticas agrícolas menos sustentáveis, como o uso intensivo de pesticidas, e a modificação genética. De todas as ceras vegetais, é a que queima mais rapidamente.
Cera de colza
A cera de colza deriva das sementes da planta Brassica napus, conhecida como colza. É cultivada na Europa, o que permite reduzir significativamente a pegada de carbono ao evitar longas cadeias de transporte. Além disso, é uma cultura de rotação, o que significa que pode contribuir para a regeneração dos solos e biodiversidade local. Esta cera vegetal é especialmente valorizada pela sua origem europeia e perfil ecológico.
Cera de coco
A cera de coco é obtida a partir do óleo de coco hidrogenado. Provém de cultivos sustentáveis e não contribui para a desflorestação. É altamente valorizada pela sua textura cremosa e adesão ao recipiente, pela excelente performance na difusão de aromas e pela queima limpa e uniforme. Tem um ponto de fusão baixo, o que significa que precisa de menos temperatura para derreter.
O que nos levou a escolher cera de colza e coco para as nossas velas
Testámos várias combinações de ceras vegetais — puras e em blend — e nenhuma apresentou resultados tão consistentes como a cera de colza e coco.
Esta combinação permite aproveitar as melhores qualidades de cada uma destas duas ceras vegetais, com um equilíbrio perfeito entre desempenho aromático, acabamento estético e impacto ambiental.
Estes são, para nós, os principais benefícios.
1. Queima lenta e homogénea
A cera de colza e coco tem um ponto de fusão naturalmente mais baixo, o que significa que derrete de forma suave e constante, a temperaturas inferiores. Isto permite uma libertação gradual do aroma e uma combustão mais controlada.
Este tipo de queima prolonga bastante a vida das velas, evita o excesso de fuligem (uma caraterística da soja) e assegura um desempenho mais limpo e uniforme — sem deixar resíduos agarrados às paredes do recipiente, mesmo após várias utilizações.
Nos nossos testes, confirmámos que esta blend vegetal tem um desempenho superior tanto na duração da vela como na estabilidade da chama — mesmo em sessões mais longas.
2. Aroma intenso (quente e frio)
Uma boa vela deve conquistar-nos antes mesmo de ser acesa e manter essa presença durante toda a queima. Nas ceras vegetais, este é o grande desafio. A nossa cera de colza e coco revelou, nos testes que realizámos, uma performance aromática estável e envolvente: o aroma frio permanece consistente com o tempo, enquanto o aroma quente se liberta de forma gradual, intensa e imersiva.
Esta capacidade de difusão está diretamente ligada à compatibilidade desta cera com óleos essenciais, extratos naturais e ingredientes plant-based, muito presentes nos nossos aromas. Mesmo nas fórmulas mais sensíveis ou complexas, esta blend preserva a integridade do aroma.
3. Sustentabilidade e origem europeia
Escolher uma cera vegetal não é apenas uma questão de desempenho. Também queremos saber de onde vem, como é produzida e qual o seu impacto no planeta. A cera de colza e coco que usamos é inteiramente produzida na Europa, sendo a cera de colza de cultivo europeu e a cera de coco oriunda de plantações sustentáveis.
Assim, esta blend tem uma origem ética e um impacto ambiental reduzido — caraterísticas das quais não estávamos dispostos a abdicar.
4. Textura cremosa e acabamento estético
Conseguir um bom acabamento com uma cera vegetal não é simples: fissuras, cristalizações e outras imperfeições são comuns, especialmente quando a vela é exposta a variações de temperatura e humidade ao longo do tempo. Isto acontece porque a estrutura molecular da cera vegetal reage ao ambiente e transforma-se com o tempo. Mas, para nós, isso não é um defeito — é personalidade.
A cera de colza e coco que utilizamos conquistou-nos, também, pelo seu desempenho estético: tem uma textura naturalmente cremosa que resulta em topos lisos, uniformes e com um acabamento subtilmente acetinado. Mesmo com ingredientes aromáticos que tingem a cera, como os óleos essenciais, mantém um tom consistente, sem escurecer ou perder definição (como acontece com a cera de soja). Apesar de, entre utilizações, poder apresentar uma textura por vezes irregular, esta é uma caraterística que, para nós, comprova a sua pureza.
5. Suportar uma elevada carga aromática
As nossas velas são intensas e isso não acontece por acaso. Uma boa difusão começa na fórmula, mas depende da capacidade da cera em integrar e estabilizar uma carga aromática generosa.
Durante os testes, a cera de colza e coco revelou-se especialmente eficaz a esse nível. Consegue integrar uma percentagem elevada de carga aromática, sobretudo de óleos essenciais e extratos botânicos (que são sempre mais densos), sem comprometer a estabilidade da vela, nem provocar sudação (a separação visível de óleo na superfície da cera).
A base certa para tudo o resto
Escolher a cera certa para os nossos Aromas Intencionais foi um processo longo, exigente e tantas vezes frustrante. Mas foi essencial para garantir que cada vela Scentir cumpre o que promete: presença aromática, queima lenta e limpa, qualidade sensorial e respeito, tanto por quem a utiliza como pelo planeta.
A cera de colza e coco das nossas velas representa tudo aquilo em que acreditamos: naturalidade, desempenho e consciência ambiental.
